segunda-feira, 4 de julho de 2016

Brincando de vôlei



Lembrando o velho ditado que a língua só bate no dente que dói, na segunda etapa do Torneio Célio Cordeiro Mirim, a ausência de pronto atendimento causou problemas novamente. Na primeira etapa, um caso mais grave aconteceu, mas o descaso é semelhante. Desta vez, tudo caminhava para que a ausência serviço passasse despercebida, como na maioria das vezes. O torneio chegou à final sem lesões de atletas durante as partidas. Mais um Fla x Flu a ser decidido em vinte pontos de um único set. Mas, justamente na final, uma atleta rubro-negra mirim virou o pé e foi ao chão com dores no tornozelo. A partida foi interrompida. Não era migué precoce de uma atleta mirim. Houve invasão de quadra. Só não entrou em quadra quem deveria entrar, um médico, um enfermeiro, um brigadista, alguém responsável por primeiros socorros. Mais uma vez, não havia pronto-atendimento na hora! Novamente, outra vez, de novo não havia pronto-atendimento na competição, assim como na primeira etapa do torneio. Pais apreensivos fizeram silêncio amargo. Treinadores das duas equipes acompanharam o caso de perto. O pai da atleta também entrou em quadra. Uma cadeira de rodas foi oferecida à atleta. A cadeira não foi usada. A atleta foi para a guerra. Depois da conversa com o pai dentro de quadra, ela voltou ao jogo. A guerreira trocou o choro pela coragem, mas não resistiu muito tempo às dores. Não suportou muito tempo. Foi substituída logo depois e não voltou mais ao jogo. 

Um torneio que causa buchicho nas arquibancadas poderia ser chamado de "torneio início fora de época". É o conhecido como Torneio Célio Cordeiro. Será que o professor Célio estaria satisfeito com a competição que leva o nome dele? O campeonato é realizado em um dia só com uma etapa em junho e outra julho que vão ter o valor de segundo turno do estadual. As atletas treinam um mês para jogar cinco sets, ou seis, se chegam à final. Os jogos bons, aqueles que sinalizam jogos disputados, deixam gosto de quero mais em bocas e em corações da torcida que permanece fiel. As partidas terminam no vigésimo ponto de um único set ou no vigésimo quinto, ou vão a dois — o regulamento pode se alterar momentos antes da competição. É torneio início ou não é? Os paitrocinadores entram com o investimento no transporte, com a alimentação das atletas — a que dá para ser feita ali entre um jogo e outro, com o plano de saúde (quem tem, né?). A taxa de R$ 300,00 (trezentos reais) por equipe que deve ser paga pelos clubes parece não ser suficiente para a Federação do Vôlei do Rio de Janeiro (FVR) contrate um serviço de pronto-atendimento. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) também não faz presença na competição. Atletas ficam então sujeitas à sorte.  Praticam esporte de alto rendimento, de risco e contam com a sorte e com a reza, a oração da família. E quem tem condições, com o plano de saúde particular, que não estão essas maravilhas. No combinado, quem afinal é o responsável nesses casos, o clube da atleta, o clube onde está sendo realizada a competição? O que diz o regulamento? Quais os procedimentos devem ser tomados em caso de urgência? Isso vai ser esclarecido ou todo muito vai ficar naquela velha onda... a gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando? O torneio infanto vem aí.

O voleibol do Rio de Janeiro, cidade olímpica do maior campeão brasileiro do naipe feminino da Superliga e que, na próxima edição nacional, terá mais um clube carioca na disputa, sobrevive e está cada vez mais longe de um legado? A base está comprometida? Até quando, jovens atletas vão estar sujeitas à própria sorte de ter um plano de saúde para compensar a falta de um pronto-atendimento médico? O Jornal Passe A registrou a presença da ambulância da SAMU que nos Jogos da Baixada. Será que é tão complicado assim resolver essa questão? Que exagero, Jornal Passe A? Foi só uma torção? É? Quem fez o diagnóstico? Quem fez o prognóstico? Pode não ser nada, mas pode ser algo grave. E se for algo grave? Há ou não há que se ter pessoal especializado em primeiros socorros para essas horas? Quem será responsabilizado? Quando vamos começar a pensar nas próximas gerações cariocas?

Perdoem-nos os representantes da FVR se não os vimos na hora que foram apoiar a família ou dar, pelo menos aqueles tapinhas nas costas da atleta ou dso pais após o jogo. Só vimos a mãe tendo que resolver o caso do próprio celular... As medalhas e as fotos são legais, os jogos (nem tanto... um torneio início no meio do ano), mas será que pais e profissionais não merecem que filhas e atletas sejam tratadas com mais cuidado? Além de tudo, não são essas meninas que vão vestir a camisa da seleção carioca e brasileira no futuro? Que tal cuidar pelo menos por interesse... há diamantes no vôlei do Rio.

Os resultados oficiais estão na nota oficial 066/2016 publicada hoje, 04/07, no site da FVR. Em tempo, parabéns pelo ouro, Fluminense! Parabéns pela prata, Flamengo! Parabéns pela participação Botafogo, Grajaú TC e Tijuca. Encerramos a cobertura do primeiro semestre já no segundo com pesar e preocupação. Desejamos a todos a e a todas boas reflexões. 

Texto e foto: Luciano Villalba Neto / Jornal Passe A

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